As resinas compostas, como materiais restauradores baseiam sua retenção em um processo adesivo que as une à estrutura dentária. Basicamente, o sistema de união deve ocorrer em substratos como, esmalte e dentina, com características completamente diferentes para permitir uma integração do material restaurador ao dente. Com isso, as pesquisas ao longo do tempo, trouxeram respostas que possibilitaram grandes avanços no conhecimento sobre adesão, substratos e como ocorre a integração em nanoescala ao dente.

A adesão ao esmalte permaneceu consistentemente simples e confiável desde a introdução da técnica de condicionamento ácido em 1955 por Buonocore *2,5. Porém, a adesão eficaz e durável à dentina orgânica e úmida, é a tarefa mais desafiadora na odontologia adesiva.

Passando pela história, Fusayama em 1979, relatou que o condicionamento ácido da dentina com ácido fosfórico melhorou substancialmente a adesão e assim, surge o conceito de condicionamento ácido total. Em seguida, Nakabayashi em 1982, relata através da microscopia eletrônica de varredura a formação de uma “camada híbrida” de monômeros de resina em uma dentina condicionada. Assim, temos o conceito de intertravamento micromecânico com as superfícies dentárias como um mecanismo principal de adesão. Na década de 1990, ocorre um grande avanço nas nanotecnologias e conhecimentos sobre os mecanismos envolvidos na união adesiva com a estrutura dental *1,2.

O conhecimento através das pesquisas trouxeram mudanças significativas nos protocolos de adesão. Surgem sistemas que interagem quimicamente à dentina promovendo uma adesão clínica confiável e durável à dentina, sem a necessidade de condicionar a dentina com ácido fosfórico 8. Assim, sistemas que interagem quimicamente à dentina profunda, melhoram a durabilidade da interface adesiva, melhora o sucesso clínico na longevidade da restauração e são os sistemas de escolha atualmente.

Sabemos que, a constante evolução dos materiais restauradores à base de resina composta, a necessidade de melhorar os resultados clínicos e o conhecimento sobre odontologia adesiva, levou a uma grande variedade de sistemas adesivos no mercado *2,4,7.

substrato esmalte

O esmalte é um substrato seco sem estruturas vitais contendo 92% em volume de fase mineral (hidroxiapatita), o que torna o esmalte quase o substrato ideal para formar uma excelente união adesiva.
Micrografia eletrônica de varredura
Figura 1. a) Micrografia eletrônica de varredura( MEV) dos prismas de esmalte dental humano. b) MEV, micrografia do esmalte humano condicionado com ácido fosfórico 15 segundos. Original magnification = 5,000X. *10
A interação micromecânica dos adesivos com o esmalte é resultado da difusão e interligação dos monômeros de resina no conjunto de microporosidades deixadas pela dissolução química ácida do esmalte. A adesão ao esmalte após o condicionamento com ácido fosfórico é certamente a base para a durabilidade dos procedimentos restauradores adesivos *1,2,6,7,10.
No esmalte, o condicionamento com ácido fosfórico ainda é considerado como o padrão ouro para adesão. Há evidências clínicas de que os adesivos dentais resultam em um comportamento clínico mais confiável quando o esmalte é condicionado antes da aplicação do adesivo *1,2,3,7,9,10.

substrato dentina

Figura 2. a) MEV, corte seccional da superfície dentinaria com presença dos túbulos dentinários. b) MEV, aspecto dentina condicionada com presença das fibrilas colágenas peri e interbular *10.
A dentina é um substrato úmido e mais orgânico *1,2. A adesão à dentina tem sido uma das tarefas mais desafiadoras e menos previsíveis na odontologia adesiva devido às diferenças dinâmicas de composição e à complexa histologia da dentina. A capacidade de aderir intimamente os materiais restauradores à dentina é afetada por muitos fatores, incluindo fatores biológicos e clínicos. Esses fatores incluem a idade do paciente, localização do dente na boca, profundidade e permeabilidade da dentina, fluxo de fluido pulpar, presença de dentina esclerótica e/ou cariada, dentina radicular versus dentina coronal, tipo de material restaurador e procedimento, isolamento, hábitos parafuncionais, experiência do dentista, entre outros *1,2,6,7.
Figura 3. a) MEV superfície dentinária condicionada em diferentes profundidades (túbulos próximo à junção com esmalte, menores e em menor quantidade) . b) MEV, superfície dentinária condicionada próximo à polpa (túbulos maiores e em maior quantidade). *10
Os túbulos dentinários são permeados por fluido sob pressão pulpar externa constante e além disso, há líquido presente na área de dentina intertubular, tornando a dentina um tecido duro intrinsecamente úmido em toda a sua estrutura interna. A dentina contém extensões do odontoblasto (processos odontoblásticos) e fibras colágenas intratubulares em áreas mais profundas, menos frequentemente na dentina média e superficial. O maior desafio ocorre quando uma restauração adesiva é inserida em dentina profunda em comparação com restaurações colocadas em dentina mais superficial *1,7,10.
As diferenças nos tipos de dentina que encontramos na cavidade a ser restaurada, influencia na decisão de qual sistema adesivo é mais adequado para aquela situação.
Sabemos que, a constante evolução dos materiais restauradores à base de resina composta, a necessidade de melhorar os resultados clínicos e o conhecimento sobre odontologia adesiva, levou a uma grande variedade de sistemas adesivos no mercado *2,4,7.

classificação dos adesivos

Inicialmente, os adesivos foram classificados por geração na ordem em que foram introduzidos no mercado odontológico. Nos dias de hoje, os adesivos dentais são melhores classificados de acordo com a estratégia de adesão e são agrupados de acordo com sua interação com a estrutura dentária. Os adesivos que incluem uma etapa de condicionamento total com ácido fosfórico são conhecidos como adesivos condicione e lave (etch and rinse – ER) para dissolver a smear layer e os componentes minerais superficiais da dentina *1,3,6. Utiliza-se dentina úmida. A maior desvantagem da técnica de união úmida é, no entanto, sua alta sensibilidade ao grau corretamente exigido de umidade da superfície da dentina, tanto com dentina super-úmida quanto super-seca, reduzindo severamente o desempenho do adesivo. Os adesivos etch&rinse de três passos, envolvem a aplicação sucessiva de condicionador ácido fosfórico, primer e adesivo em 2 ou 3 etapas de aplicação.
Os adesivos que não utilizam uma etapa de condicionamento ácido separada são conhecidos como adesivos autocondicionantes (self etch – SE). Eles condicionam e preparam o esmalte e a dentina simultaneamente, contando com sua capacidade de infiltrar-se através da smear layer e se incorporar à interface adesiva *1,3,6. Seu primer ácido sem enxágue não remove a camada da smear layer. Em vez disso, integra os resíduos desta camada na interface adesiva enquanto descalcifica ligeiramente a hidroxiapatita superficial na dentina e no esmalte. Acidez adequada pH~2. *1,3,6
Os adesivos conhecidos como universais foram introduzidos como uma opção clínica mais versátil e podem ser utilizados nas estratégias de ER e SE ou condicionamento seletivo do esmalte de acordo com a situação clínica ou preferência do operador *1,2,3,6,9.
Para apresentarem esta diversificação no uso, estes adesivos possuem monômeros ácidos funcionais, como 10-metacriloiloxidecil di-hidrogenofosfato (10-MDP), para fornecer ligação química ao dente. A presença do 10-MDP na composição dos adesivos universais possibilita ligações iônicas estabelecidas pelo radical fosfato presente no 10-MDP que reage com a hidroxiapatita, formando sais de monômero-cálcio (Ca) que são estável à degradação *1,2,3,6,7,9.
O mecanismo de ligação química do 10-MDP à dentina ocorre devido à interação com Ca, não há razão para aplicar ácido fosfórico antes da aplicação do adesivo, uma vez que todo Ca na dentina desmineralizada é removido após o condicionamento com ácido fosfórico *1,2,3,6,7,9.
Observações importantes *1,2:
  • A adesão e união ideais do esmalte só são viáveis com adesivos que dependem do condicionamento do esmalte com ácido fosfórico
  • O comportamento clínico dos adesivos universais também depende do condicionamento do esmalte com ácido fosfórico. Portanto, o condicionamento seletivo do esmalte é recomendado sem o condicionamento da dentina. Isso permitiria a potencial ligação química entre o monômero funcional e a hidroxiapatita dentinária.
  • Os adesivos universais também podem precisar de tempo extra de secagem do solvente para garantir a remoção da água residual na interface
  • Os adesivos universais são recomendados pelos respectivos fabricantes como adesivos E&R e SE, além do condicionamento seletivo do esmalte. A evidência clínica indica claramente que o E&R e o condicionamento seletivo do esmalte são as duas estratégias de adesão recomendadas que resultam em excelente comportamento clínico.
  • Embora não seja recomendado deixar a dentina úmida com adesivos universais, uma aplicação vigorosa de pelo menos 15 a 20 segundos e tempos prolongados de evaporação do solvente podem otimizar o comportamento desses adesivos.
  • A baixa capacidade de condicionamento do esmalte dos adesivos autocondicionantes pode resultar em descolamento nas margens, levando à descoloração marginal.

Leia mais em:

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2. Perdigão, J.; Araújo, E; Ramos, R .Q.; Gomes, G.; Pizzolotto,L., Adhesive dentistry: Current concepts and clinical considerations, J. Esthet Restor Dent.; 33:51–68., 2020. https://doi-org.ez93.periodicos.capes.gov.br/10.1111/jerd.12692

3. M. Wendlinger a, C. Pomac´ondor-Hern´andez b, K. Pintado-Palomino c, G.D. Cochinski a, A., D. Loguercio, Are universal adhesives in etch-and-rinse mode better than old 2-step etch-and-rinse adhesives? One-year evaluation of bonding Properties to dentin. Journal of Dentistry 132 (2023) 104481 https://doi.org/10.1016/j.jdent.2023.104481

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7. D. E. Betancourt , P. A. Baldion , and J. E. Castellanos Resin-Dentin Bonding Interface: Mechanisms of Degradation and Strategies for Stabilization of the Hybrid Layer, International Journal of Biomaterials, Article ID 5268342, p. 11, V. 2019. https://doi.org/10.1155/2019/5268342

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9 Szesz A., Parreiras S., Reis A., Loguercio A. condicionamento seletivo do esmalte em lesões cervicais para adesivos autocondicionantes: uma revisão sistemática e meta-análise. J Dente. 2016; 53 :1–11.

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